sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

Sonho de ti


Sonho de ti

(...)"Neste jardim, acabam todas as viagens. Estou sentada na ponta do banco onde nos sentávamos em sonhos. Sinto nos dedos a madeira, os caminhos que insectos percorrem enquanto roíam o nosso passado, sinto a madeira que apodreceu. Avanço lentamente com o olhar sobre este banco, o infinito, avanço lentamente com o olhar e, como uma sombra, debaixo do tempo, vejo-te. Não sei se este rosto és tu ou a imagem de ti na minha memória. Vejo-te. Não sei se te vejo. A luz escurece e essa é a cor do tempo a passar. Os meus cabelos negros. O meu vestido negro. Na terra, nas ervas, nas árvores, o negro cobre superficies cada vez maiores. A noite chega lentamente e estende-se sobre as coisas em pequenas poças de negro. E o negro absoluto do meu vestido escurece ainda mais. Os meus cabelos lonos e negros escurecem. A tua pele é tão brancae, como o céu, anoitece devagar. Há uma brisa que passa pelo céu e pela tua pele. Dentro dos teus olhos, há o brilho de onde nascem as respostas, mas não vou perguntar-te nada. Tenho medo de que a minha voz te faça desaparecer de novo. O silêncio é atravessado pelos nossos olhares. O silêncio é o lugar onde os nossos olhares se encontram. Não vou perguntar-te nada. A noite chega aos teus olhos, ás tuas mãos. Sombras de passos. Sei que não conseguirei imaginar estrelas se olhar para este céu negro. Este céu que tem o tamanho do meu peito em todas as vezes que entrei nele para te procurar."(...)

In Antídoto (j.l.p)