domingo, 10 de junho de 2007

A noite que me engana

A noite chega e escurece.
O negro que já existia, escurece mais.
Dentro de mim crescem palavras
escritas em ápices de dialectos ímpossiveis.
Palavras que me tocam os lábios...
e os meus lábios, querem só tocar-te!
A tua pele, os fios do teu cabelo, a tua boca
-passam por mim como o tempo,
que arrasa e nos separa.
Somos sombras que se cruzam,
mas não se tocam, não se têm, não se fudem...
Consome-me a ausência do que imagino,
na certeza que numa noite virás até mim.
Entrego-me a este castelo encantado
e noite engana-me outra vez!
Ouço o silêncio negro,
que me aconchega e me desespera...
Aninho-me neste lugar,
onde os nossos olhares perdidos se cruzam.
Lá fora o medo e o desejo...
Um céu aberto de estrelas, onde mergulho para te encontrar.

2 comentários:

Anónimo disse...

A sensibilidade com que escreves, denota um sentimento forte...é bom sentir! Melhor ainda é imortalizar o que se sente, escrevedo.

Joaquim Amândio Santos disse...

sacodem a solidão, por entre as migalhas de poeira, cada um dos passos firmes num passeio solitário.

para lá da estrutura auditiva, o ninho de palavras de um escritor sorve todos os ruídos que volteiam no mesmo mundo das cores, na mesma dimensão dos animais, plantas, construções e pedaços de natureza que se espalham ao longo da vida desse percurso.

eis o que pulsa no fervor da escrita.
cada página um campo de batalha, cada palavra uma adaga desse convicto vampiro do mundo de todos, de todos quantos agora foram sorvidos pelo seu mundo!